quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO DF

- Tecnologias Inovadoras -

No mundo todo o lixo urbano é um problema que ainda procura soluções tecnológicas que permitam remunerar o capital a ser investido na reciclagem. Nos países em desenvolvimento o problema é muito mais grave porque, além de ter sua maior parte, simplesmente jogado em terrenos baldios significa a sobrevivência de centenas de milhares de pessoas que vivem do lixo.

No Brasil, tentativas de melhorar a situação de cerca de 280 mil famílias de catadores (cerca de 800 mil pessoas envolvidas) de lixo e promover a reciclagem resultaram no fracasso econômico das estações de reciclagem, evolução muito lenta da coleta seletiva, saturação progressiva dos aterros sanitários e continuidade dos lixões nas cidades menores, incapazes de arcarem com os elevados custos dos aterros sanitários e aterros controlados.

As estações de triagem produzem materiais recicláveis sujos de matéria orgânica que alcançam preços muito baixos e o lixo orgânico vai para compostagem resultando em um adubo com contaminação de metais pesados, com baixos teores de nutrientes e que não interessa a maior parte dos agricultores, que dispõem de matéria orgânica a vontade em suas propriedades.

Essa situação tem inviabilizado economicamente a solução das estações de triagem por cooperativas de catadores que mal conseguem obter meio salário mínimo dessa atividade. A solução de coleta seletiva copiada dos países de alto nível de renda e elevado custo do fator trabalho representa uma pequena parcela do universo da população envolvida com o lixo, cerca de 46 mil pessoas, e desconhece um dos principais problemas dos resíduos sólidos urbanos, o lixo orgânico que representa de 50% do total do RSU coletados no Brasil, que se estima atinja 149 mil toneladas por dia (IBGE-2000) ou 55 milhões de toneladas por ano num total de 267 mil t gerados diariamente.

Em Brasília (DF) quase 2 mil toneladas que resíduos sólidos são recolhidas por dia, pelos caminhões do Sistema de Limpeza Urbana (SLU). O último levantamento do órgão de limpeza mostra que em 2008, cada morador produziu na capital, em média, 2,4 quilos de lixo por dia. Foram 876 kg de resíduos por pessoa, jogados na lixeira durante todo o ano. Dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, apontam o DF como o maior produtor de resíduos sólidos do país. Na verdade a composição da coleta mostra situação diversa do que faz pensar os dados do SNIS:

O que mais pesa nessa estatística é a remoção de entulho como subproduto da construção civil, um item importante numa área urbana metropolitana que cresce muito rapidamente exigindo sempre novas moradias. O resíduo domiciliar é relativamente baixo para a média brasileira e apesar da elevada renda média por habitante no DF, a renda é muito mal distribuída, situação claramente evidenciada pela estatística do SLU – DF. A tabela publicada pelo Correio Braziliense em 26/01/2010 adiante comprova claramente a assertiva, pois, na cidades satélites mais pobres a média de coleta é muito inferior a Brasília, Lagos Sul e Norte, Núcleo Bandeirante e Taguatinga, variando de 0,45 kg/dia/hab. em Brazlândia para 1,05 Kg/dia/hab. em Taguatinga e 3,99 Kg/dia/ hab. no Lago Sul.

O Lixão da Estrutural é para onde vai a maior parte do lixo coletado em todo o Distrito Federal com elevados riscos para o meio ambiente, mostrando ainda uma face inaceitável de miséria das mais de 1600 pessoas que vivem nesse lixão, inclusive muitas crianças. Duas cooperativas de catadores atuam nesse lixão, ironicamente chamado de aterro sanitário. A CORTRAP - Cooperativa de Reciclagem Trabalho e Produção e AMBIENTE - Associação dos Ambientalistas da Vila Estrutural.

A coleta seletiva feita pelo SLU representa apenas 0,8% dos resíduos coletados considerado o total inclusive a remoção de entulho e 1,9% se considerados apenas os resíduos domiciliares. Não se tem dados da coleta seletiva realizada diretamente por 4 cooperativas do DF.

Diversos planos e projetos vêem sendo estudados no DF, inclusive para resolver a questão do lixão da Estrutural, mas as soluções mantêm a utilização as tecnologias convencionais obsoletas conhecidas que não resolvem a questão dos resíduos orgânicos nem tampouco a grave situação social de cerca de 4.500 catadores em todo DF.

A preocupação da sociedade e dos organismos públicos e privados dedicados ao problema do lixo urbano tem sido de cooptar a população através da conscientização e da educação para organizar a disposição já a partir de sua geração para facilitar e possibilitar a sua reciclagem, de forma a propiciar pela reciclagem a inclusão social e geração de renda de grupos sociais marginalizados envolvidos de alguma forma na coleta e disposição desses resíduos.

Essas ações compreendem o que se conhece por “coleta seletiva”, defendida quase que unanimemente como a solução ideal para a inclusão social desses grupos marginalizados e para a defesa do meio ambiente. A situação atual, entretanto, mostra um quadro muito distante da solução ideal, de “coleta seletiva” proposta e aceita em geral pela população, resultando num quadro assustador de antropia na maior parte do país.

No Brasil há várias formas de tratamento de resíduos sólidos, embora a maior parte vá para os chamados lixões. Nestes locais, catadores separam os materiais aproveitáveis para vendê-los para empresas recicladoras, sempre a preços irrisórios. A proposta de diversos organismos governamentais dedicados a solução do problema é principalmente da criação dos aterros sanitários.

A presença de catadores nesses aterros e lixões, com adultos e crianças se alimentando dos restos de comida e sobrevivendo da separação e comercialização dos materiais recicláveis presentes no lixo urbano é um quadro socialmente inaceitável. Essas pessoas trabalham e muitas vezes vivem nesses locais, sob condições extremamente precárias, sujeitas a todo tipo de contaminação e doenças. Além disso, o potencial de reciclagem do material coletado nessas condições é precário, devido ao alto índice de mistura com outros resíduos, sendo por isso comercializado por valores muito inferiores aos valores pagos no mercado.

O domínio da cadeia produtiva por parte do atravessador (os donos de depósitos de lixo), a vinculação ás empresas recicladoras, a dispersão dos catadores devido à ausência de organização social da categoria, as péssimas condições de vida dos catadores e suas famílias são alguns dos problemas que desafiam a sociedade e os órgãos de governo a tomarem medidas que superem essas dificuldades.

Assim, é com tecnologia e inovação, principalmente com objetivo principal de inclusão social desses grupos sociais marginalizados, que passa a superação das limitações impostas pela escassez de recursos públicos na implantação de dispendiosos aterros sanitários com a introdução de uma nova concepção do problema baseada num dos mais importantes e novos setores da economia: a reciclagem industrial.

Esse setor em rápido crescimento em todo o mundo e principalmente no Brasil propicia condições de aporte muito menor de capital para o setor de separação e tratamento desses resíduos sob incentivo público, de forma, não somente a generalizar a utilização das novas tecnologia e inovações como e principalmente propiciar a inclusão social efetiva de amplas camadas dessa população marginalizada e explorada, organizada na forma associativa, retendo os rendimentos atualmente captados por intermediários.

A elevada agregação de valor a esses resíduos depois de apropriadamente tratados e industrializados permite remunerar o capital necessário a esses procedimentos, descolando as meritórias iniciativas de disseminação da “coleta seletiva” das limitações de sua universalização, com a rapidez necessária a superação do grave problema ambiental criado.

O desenvolvimento dessas tecnologias e inovações virá necessariamente ao encontro da disseminação de projetos economicamente viáveis passíveis de suporte financeiro pelo sistema público de fomento, às organizações cooperativas dessa população promovendo todos os benefícios resultantes da reciclagem industrial aliados a um processo de distribuição de renda e preservação ambiental.

Alternativamente, um processo de associação do capital privado com essas cooperativas ampliando as possibilidades de uma gestão eficiente permite a viabilização efetiva desses projetos mantendo as condições ideais de relação entre o capital e o trabalho, onde o salário não é um meio adequado de remuneração do trabalho, devido às difíceis condições prevalecentes no ambiente de triagem e processamento, por mais que medidas de proteção sejam tomadas.

O custo ambiental pago pela população tem em geral como indicador quadros de endemias, patologias e as centenárias “indústrias” da seca aditivada pelo racionamento hídrico no Nordeste, onde o problema se apresenta com acentuada gravidade.

Este projeto baseado na viabilização econômica do processamento dos RSU vai mostrar com clareza as enormes vantagens da solução de reciclagem integral com agregação de valor industrial a todos os resíduos domésticos e de custo inferior às outras soluções existentes e com um enorme potencial de inclusão social, além dos importantes benefícios indiretos para toda população.

O Projeto da Unidade de Reciclagem Integral de Resíduos Sólidos Urbanos representa o que há de mais moderno em termos de Tecnologia na Gestão Integrada de Resíduos. As unidades de separação e industrialização de materiais recicláveis e do lixo orgânico têm uma concepção completamente nova para os padrões brasileiros na medida em que torna produtivo o capital necessário para o processamento dos RSU.

Em verdade, o mundo ainda acorda para os problemas ambientais e a degradação que afeta a vida futura do homem na terra. Até pouco tempo tais problemas eram tratados como simples utopia. Este projeto se insere nessa nova concepção e demonstra a possibilidade do poder público agir com racionalidade econômica na questão dos resíduos sólidos domésticos propondo a utilização de tecnologias já conhecidas no caso do lixo seco e novas tecnologias no caso do lixo orgânicos, integrando uma população marginalizada e miserável na mais moderna indústria do mundo e que cresce rapidamente.

Para isso foi necessária a concepção de um projeto de caráter verdadeiramente industrial, que produz resíduos recicláveis limpos como matérias primas industriais e que os resíduos orgânicos agreguem valor de tal forma que seu tratamento seja rentável, o que não acontece com a compostagem para adubação, cujo produto contém baixo teor de nutrientes e cuja matéria orgânica oxidada é para o agricultor excessivamente onerosa, frente a suas alternativas de compostagem de resíduos orgânicos na própria propriedade. A relação custo/benefício do adubo orgânico da compostagem para o agricultor é superior a unidade. As numerosas experiências levaram ao subsídio e ao abandono com o correr do tempo da compostagem como solução para o lixo orgânico.

O sistema proposto para os resíduos sólidos orgânicos, que representam de 50 a 60% em peso do total dos resíduos domiciliares, utiliza a tecnologia de tratamento do lixo orgânico através de um sistema baseado num biodigestor anaeróbico de fluxo ascendente em manta de lodo (UASB) adaptado para operação com carga mais elevada de matéria orgânica e baixo pH resultando na produção de ácidos carboxílicos, com predominância do ácido acético que reduzido em reações Redox por fotocatálise se transforma em etanol, de grande amplitude de mercado e que vem contribuir para a redução do “Efeito Estufa” pela substituição dos combustíveis derivados do petróleo.

O sistema de separação para reciclagem integral se caracteriza pela utilização do trabalho dos catadores de lixo que atuam nos lixões para a separação manual em correias transportadoras, trituração do vidro, floculação, aglutinação e extrusão do material plástico de polietileno, poliestireno e PVC e das garrafas de PET, após lavagem e limpeza do material, agregação do material metálico, prensagem de latas de alumínio e de folha de flandres e tratamento de papel e papelão em “hidrapulper” e hidrociclones, com sua prensagem em roscas secadoras para venda de pasta de celulose de segunda (aparas) por valor pouco inferior ao da celulose virgem.

Um resíduo não reciclável que representa cerca de 2% em peso pode ser confinado num depósito construído em concreto, evitando a possibilidade de contaminação com o solo e subsolo. A separação de lâmpadas fluorescentes e incandescentes, de material eletrônico, de pilhas e baterias ainda possibilita o encaminhamento para indústrias especializadas nessa reciclagem.

O resíduo orgânico sofre uma trituração fina e separação das frações pesadas num levigador e é tratado num biodigestor anaeróbico de fluxo ascendente em manta de lodo (UASB) que produz ácidos voláteis (carboxílicos) transformados por reações Redox em alcoóis por fotocatálise heterogênea e a matéria orgânica residual de sólidos insolúveis, que sai no efluente junto com a descarga do excesso da manta de lodo tem sua umidade reduzida e é secada constituindo-se em ração animal com alto teor de proteínas, agregando valor muito superior ao do composto, forma usual de disposição do resíduo orgânico.

No DF, o lixão da estrutural que recebe cerca de 2.000 t/dia pode ser substituído por unidades industriais que irão empregar quase todos catadores do DF na forma de cooperativas industriais e cuja remuneração entra na faixa de resgate definitivo da miséria e da pobreza com amplas possibilidades de promoção social dessa população. Adicionalmente, essas unidades em número de 7 podem ser distribuídas no DF de forma a minimizar os custos de coleta e se situar mais próximas dos locais onde atuam muitos catadores.

A tecnologia possibilita a solução tão procurada para o grave problema dos RSU – Resíduos Sólidos Urbanos no DF, além de determinar sua liderança na solução do problema em todo Pais.

Um comentário:

  1. Não é propaganda, mas informação.

    Um copo de água de “Coco Verde” de 250 ml gera mais de “1 Kg de lixo”.

    Como fica o Coco Verde com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) ??

    300.000 caminhões de resíduo de coco por ano.
    Telhado Verde
    www.cocoverderj.com.br/coberturaverde.htm

    Painéis Verticais
    www.cocoverderj.com.br/jardimvertical.htm

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